O Ricard que não leva anis
Um cliente antes do almoço:
O cliente não tem sempre razão e ás vezes deixam a boa educação e o bom senso em casa e decidem ir espalhar o pânico pós cafés, porque acham que os funcionários têm que levar com tudo e pronto.
Atender público. Fácil imaginar a quantidade de histórias e situações que se passam e se vêm acontecer. Assim, achei que poderia escrever...
-"Boa tarde! O que vai ser?"
-"Sirva-me um whisky!"
-"Prefere novo ou velho?"
-"Pode ser novo."
-"E tem preferência?"
-"O que é que têm?"
E eu olho para trás, onde está uma garrafeira exposta em prateleiras, bem á vista de qualquer um... Mesmo assim e apesar de ter muitos outros clientes á espera para serem atendidos e eu a perder tempo com este Senhor, eu digo-lhe os nomes de whiskys que tenho á disposição.
-"Bom, Sirva-me um qualquer!"
Ui!!!!!
A sério???
Viro costas, reviro os olhos, pego na primeira garrafa que me vem á mão e sirvo a dose de whisky á frente do Senhor.
Este leva o copo às "beiças" e grunhe:
-"Não havia lá nenhum pior?"
Passada a parte das aparências, até porque lhes estava a ficar caro, chegamos então á parte da boa e barata cervejinha.
Pena, que a esta altura e "litragem", além de já terem perdido a necessidade de "boa aparência", também já tinham perdido a réstia de sensatez que poderiam trazer com eles.
Pedem uma rodada de "imperiais" e há uma "cavalgadura" que diz que a dele sabe a sumo de maçã.
Eu desprevenido e sem acreditar que estavam a falar a sério, sorri com toda a boa educação e continuei o meu trabalho.
E pedem a segunda rodada. Desta vez uma "cavalgadura" diferente, diz que a imperial dele não era igual á dos outros e que eu tinha que resolver isso. Eu levei o copo para dentro, tirei-lhe outra cerveja a qual o Sr disse que estava melhor.
Como se estava a espera, na terceira rodada, ouve mais uma queixa. Desta vez a "cavalgadura" em questão diz que a cerveja dele parecia "mijo".
Pois, eu que já estava "cheio" e já tinha ouvido o suficiente, mas ainda com toda a educação que me restava, dei a minha palestra: disse-lhes que a cerveja saía toda da mesma máquina, os copos eram todos iguais e lavados no mesmo sítio e que as mãos que as tiravam também foram sempre às mesmas.
Assim, "peço desculpa, mas tenho outros clientes á espera". E deixei-os com o "mijo" a frente.
Ainda tentaram uma quarta rodada, mas eu fiz de conta que estava extremamente ocupado e que não os ouvia. Lá desistiram.
Talvez o único com vergonha na cara, levantou-se e dirigiu-se ao balcão para fazer contas. A qual eu lhe apresentei com um sorriso no rosto enquanto o vi perder a cor quando olhou para o valor no talão.
E aquele cliente que diz que não bebe cerveja de pressão, mas se for a uma festa, bebe o que houver, às vezes até restos do ano anterior e em máquinas que já não vêm limpeza nem manutenção à anos. Mas como não têm escolha, bebem e não reclamam...
Ou aquele que passa a vida a dizer que deveríamos ter "imperial" porque está mais fresca e tal, mas quando vai a um estabelecimento com "imperial", pede uma mini, porque não gosta de "imperial da Sagres".
Não há pachorra.
Além do mais, como qualquer pessoa com os mínimos, perceberia que eu não faço milagres e não vou deixar de atender quem está à sua frente, só porque o Senhor está com pressa, mas ainda quer beber mais uma.